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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A  EDUCAÇÃO NO CONTEXTO NEOLIBERAL: UMA REFLEXÃO SOBRE A MERITOCRACIA NO ENSINO PÚBLICO*


O gerenciamento por metas versus objetivos defendidos pela secretaria de educação Maria Helena Guimarães de Castro, além de não melhorar a educação, certamente agravará o sistema de ensino. Isso porque nessa perspectiva adotada pela ideologia neoliberal, coloca como causa a as praticas pedagógicas e os professores.

Jogam a culpa pela situação vigente na falta de esforço individual e pedagógica dos professores e a falta de interesse dos alunos.

Esse modelo transfere a responsabilidade do estado como agente responsável por uma  política de melhoria na educação,  para a responsabilidade individual do educador e a meritocracia do aluno no seu desempenho ignorando as políticas governamentais como produtoras da exclusão através de suas políticas na educação.

A proposta da secretária da educação em promover uma “competição meritória” entre professores para estimular o melhor desenvolvimento no ensino, é arbitrária, isso porque ignora as condições desfavoráveis enfrentadas pelos professores em toda a estrutura do ensino publico, essa transferência de responsabilidade é injusta, pois, ignora as condições de cada um na sua individualidade.

Alunos e professores nesse caso serão penalizados, pois irão sofrer concorrência desleal, desde a sua formação não são oferecidas condições iguais. Esse modelo neoliberal que tenta levar a escola à dimensão de mercado promovendo a competição meritória  é descrita da seguinte forma:

Em suma, os governos neoliberais deixaram (e estão deixando) nossos países muito mais pobres, mais excludentes, mais desiguais. Incrementaram (e estão incrementando) a discriminação social, racial e sexual, reproduzindo os privilégios das minorias. Exacerbaram (e estão exacerbando) o individualismo e a competição selvagem, quebrando assim os laços de solidariedade coletiva e intensificando um processo antidemocrático de seleção "natural" onde os "melhores"" triunfam e os piores perdem. (Pablo Gentili).

A nossa sociedade é dicotomizada, e os considerados “melhores”  estão de certa forma predestinados, esses são as classes privilegiadas, as que detêm o poder e os “piores”, são as classes subjugadas num contexto de pobreza que na maioria das vezes lhes é negado às mínimas condições de viver com dignidade.

Na visão neoliberal apresentada pela secretária da educação do estado de São Paulo, “ao ignorar méritos e deméritos, ela deixa de jogar luz sobre os mais talentosos e esforçados e, com isso, contribui para a acomodação de uma massa de profissionais numa zona de mediocridade. Por isso, demos um passo na direção oposta”. 

Esse axioma tem postulados no “mérito individual” do sujeito na sociedade como se somente uma pessoa pudesse reverter o processo que tem variantes sociais, é uma visão simplista e reducionista, achar que com o modelo de competição, estimulando talentos individuais irá solucionar um problema de estrutura.

Maria Helena usa como  base para afirmar a sua tese sobre o bônus para o professor que mais se destacar diante a metodologia de prêmios e fala de como premiar os profissionais mais presentes ao mesmo tempo excluir os mais faltosos, o que é uma boa proposta, contudo, não se deve esquecer que as condições básicas de Nova York desde a escola primária, e o sistema educacional americano oferece condições para que esse professor que tenha interesse em melhorar realmente consiga alcançar esse estágio proposto pelo sistema educacional.

A secretária deveria fazer uma comparação quantitativa de investimento em Nova York com o estado de São Paulo, daí verá que as realidades são diferentes, principalmente a prioridade ao setor educacional adotada pelo referido estado americano em comparação com o estado mais rico do país.  

“O Brasil ainda está pouco habituado a encarar as políticas para a educação voltada pra os alunos”. (Maria Helena).

Essa afirmação é absoluta, contudo, no contexto em que a secretária faz, ela particulariza, como se a realidade dessa afirmação, tivesse sua causa somente nos  professores.

Os alunos merecem uma boa aula, isso é indiscutível,  devem-se premiar os professores  mais ativos no ensino, os que menos faltam isso podem ser feito; contudo é reducionista deixar nas entrelinhas que o ambiente e as péssimas condições das instalações e a falta de do mínimo necessário para que isso ocorra, não influencia ou até mesmo determina as precariedades do ensino.

O modelo educacional proposto por Maria Helena tem sua configuração na perspectiva neoliberal, com sua lógica de mercado, de acordo com Pablo Gentili:

"A lógica competitiva promovida por um sistema de prêmios e castigos com base em tais critérios meritocráticos cria as condições culturais que facilitam uma profunda mudança institucional voltada para a Configuração de um verdadeiro mercado educacional".

Superar a crise implica, então, o desafio de traçar as estratégias mais eficientes a partir das quais é possível construir tal mercado.

As reais intenções do sistema neoliberal é ter um “controle de qualidade” sobre a qualidade de “serviços” educacionais, para que assim possam levar o sistema a se conectar com as demandas do mercado.

Isso pode ser visto pelo fato de que promove a exclusão dos “menos” capacitados, pois a forma de “avaliar” tem sua base na historiografia positivista, no seu tecnicismo, entende que a capacidade de uma pessoa pode ser “medida” de acordo com uma ciência exata, com isso, tenta  promover a individualidade, contudo, sua metodologia contraditoriamente é uma tentativa de “igualar” o ser humano, ao tentar o avaliar, através de um sistema promotor de uma “igualdade” no tocante a capacitação dos professores.

Essa teoria contraria  a própria tese de que é necessário esforço para que todos alcancem o mesmo nível de e sejam premiados.

A crise no sistema educacional não é gerencial, mas da democratização, que produz a exclusão, não será o incentivo a “livre concorrência” o fator que irá solucionar o problema estrutural, que precisa de maior flexibilidade para  produzir o mínimo de equidade. Equidade essa defendida pela política neoliberal como efeito do sistema educacional ser ajustado as demandas do mercado de trabalho,  quando o inverso é que pode produzir a chamada equidade: o sistema educacional promover a empregabilidade.

O investimento com verbas públicas seria  eficiente se investido na estrutura  básica de saúde, alimentação, saneamento básico, para assim dar ao estudante condições para se desenvolver na escola. Colocar a educação vinculada ao sistema de competição é um equivoco pelo fato de ignorar que a exclusão social é justamente produto da competição predatória imposta pelo mercado, que na ênfase de promover a individualidade, produz segregação, separação, promove violência por negar os direitos mínimos aos mais pobres e excluídos do sistema.

Esse processo tem uma função ideológica fundamental para a reprodução das relações sociais, baseada no mérito pessoal, demonstrando a todos os setores que existe igualdade de condições entre professores.

A ideologia do método da secretária da educação tem nas entrelinhas a perpetuação da reprodução nas relações sociais, o mérito pessoal deixa explicito a pseudo imagem de que há igualdade de condições entre os professores, sendo assim, “confere aos privilegiados o privilégio supremo de não aparecer como privilegiados”. (Bourdieu 1982, p. 218).

Transferindo a responsabilidade para aqueles que segundo a lei da “punição e castigo” são os deserdados, irresponsáveis e culpados pelo desempenho na sua função, penalizando-o pela “ausência de esforço” na competição do mercado educacional.

A solução deveria partir na busca de políticas que promovam maior inclusão, diminuírem a desigualdade,  e não promover uma luta desigual, excludente e predatória.

*Trabalho realizado no Curso de Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo - UMESP 
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Referências
GENTILI, Pablo. Neoliberalismo e educação: manual do usuário. Disponível em: http://www.cefetsp.br/edu/eso/globalizacao/manualusuario.html

Entrevista com a Secretária de Educação do Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, publicada na Revista Veja, disponível em:

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. 2ªed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

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