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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Evolucionismo & Criacionismo: Um diálogo

A Teologia deve ter como ontogênese [1] a ecologia, e não a imago dei, [2] não a imagem daquele que criou, mas de onde o criado imerge, não é negar a transcendência [3] do criador na criatura, mas re-conhecer a natureza como suporte sine qua non [4] para a existência da criatura. É um convite a andar numa linha tênue: “afirmar a natureza imanente [5] no homem tanto em sua composição química, quanto na influência bio-psico-lógica [6], que molda a dimensão psico-soma da existência humana”.

A ecologia afirma o entranhamento da natureza no homem, na imago dei eleva-se o homem acima dessa. O ser criado na antropologia teista [7] precisa reconhecer que o homem como o último na cronologia é dependente em comparação aos outros seres que habitam o planeta antes dele. A antropologia criacionista [8] tanto quanto a evolucionista concordam com sua peculiaridade, a capacidade de transcender o eleva acima dos demais seres.

Claude Lévi-Strauss diz: “A cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma (LARAIA 2009)”.

O teísmo [9] crê que o homem desde a sua origem é superior a natureza, mas também tem na regra, a origem do des-vinculo com ela. Pré-supõe no teísmo a semelhança do evolucionismo, num determinado momento o homem vivia em harmonia sendo uma unidade com a natureza. O conflito surge em ambas às teorias através da norma ou regra, essa é a gênese da transcendência no teísmo: “O conhecimento do bem e do mal”.

A antropologia Darwinista tem na regra a evolução, a criacionista, não na regra, mas a quebra dessa, a regressão. Na primeira o homem é elevado a um estado superior, na segunda o inverso, ele sai de um estado “superior”, que seria a “ausência de conflitos”, para a “imperfeição”, que é atitude de criar, decidir por si mesmo, o certo e o errado. Na primeira a regra eleva, na segunda somente submetendo-se a ela o homem é elevado, manteria a ausência de conflitos!

A antropologia teista ou evolucionista são unânimes, em afirmar que houve um momento de transcendência:

“Todo comportamento humano se origina no uso de símbolos. Foi o símbolo que transformou os nossos ancestrais antropóides em homem e fê-los humanos. Todas as culturas se espalharam e perpetuaram através de símbolos” (LARAIA 2009; p55 op.cit. Leslie White). [10]

O comportamento humano, a faculdade de criar símbolos trouxe a des-harmonia, entre o homem e a natureza, houve um tempo em que às instancias da vida tinham duas dimensões: O Id [11] (Eu quero) com o Ego [12] (Eu posso), não existia Superego [13] (Eu devo)! A vida era afirmação dos desejos sem oposição da realidade, o símbolo deu significado, trouxe a cultura, homem e natureza deixaram de ser unidade.

A cultura eleva o homem acima dos animais, e transporta-o a dimensão dos conflitos geradores de neurose pela quebra das regras. Mas se a cultura é a gênese dos conflitos, entre as três instâncias da vida: Eu Quero X Eu Posso X Eu Devo? De onde surgiu esse ponto de interrogação (?), seria ele filho da cultura, nomeado pela psicanálise de “superego”!

Antes do superego a vontade de potência (Nietsche) era afirmativa “eu Devo”! Mas a afirmação cede lugar à interrogação “Eu Devo?” Alguma coisa aconteceu, a afirmação precisa da negação para ter sentido, a moral eleva o homem acima dos demais, mas toda ação produz re-ação, a eleva-ação gerou conflitos, ganhou transcendência, mas também a capacidade de se tornar neuro-òptico!

A origem da cultura para a antropologia Darwinista é o equivalente à lei da “arvore do conhecimento”, eleva o homem a uma nova dimensão. O estágio que antecede a norma mantém o homem num estado de igualdade com a natureza colocando-o na dimensão dos animais, essa dimensão que antecede as normas e a incapacidade de simbolizar tornava o homem igual aos demais seres. O surgimento desses símbolos eleva-o acima dos outros seres.

No teísmo, a norma não eleva, ela adverte em manter a harmonia. O homem sempre é considerado superior à natureza, a questão é: “Como ser superior aos animais sem a presença dos conflitos”? Não é o conflito com a natureza que diferencia o homem dos demais habitantes do planeta?Na antropologia teista, a narrativa do Gênesis infere que a “evolução” dar-se-ia justamente em “não ir além da norma”, de forma que a “norma” existe para ser mantida.

Nas duas teorias, a norma é fator sine qua non para a “evolução”, ou “degradação”! O teísmo traz implícito que o homem desde a sua origem é superior, e que a quebra da norma lhe colocou em conflito com a natureza causando a sua finitude (morte). O homem estaria em evolução com a ausência do conhecimento, ou seja, estaria evoluindo preservando-se de conflitos, pois o conhecimento deu origem à morte. No teísmo, a norma não deve ser quebrada, sua “transgressão” leva à “re-gressão”, pois nasce o conflito, a consciência, a subjetividade! No evolucionismo, a norma leva à “evolução”.

Os antropólogos elevam o homem a uma categoria suprema ao constatar que de todos os seres vivos é o único que tem noção de tempo, vive o hoje com o olhar no ontem e projeta-se para o amanhã. No entanto, reconhecem que esse mesmo homem é um dos mais frágeis na cadeia evolucionista, necessita de anos para ter um pouco de autonomia, e como os demais seres que já existiram antes dele, pode ter o final do seu ciclo no planeta.

O pré-suposto do teísmo inverte essa concepção ao afirmar que a teoria da superioridade do homem, criado a imago dei dá sentido à existência no tocante à finitude da vida. Em contrapartida, faz com que o homem abuse do “poder” que lhe foi outorgado, pois a transcendência deu-lhe a ilusão de que pode viver não só além da natureza, mas a submeter aos seus desejos!

A Antropologia Darwinista e a Teísta tem um ponto em comum: “Houve um momento que o homem se distanciou da natureza”! A discordância vem na seguinte indagação: “Foi uma Queda (teísmo) ou um Salto (evolucionismo)?”.

Na evolução: “O homem pró-gride”, vai para a dimensão da se-“para-ação”, ter consciência da finitude é evolução, dar-se-ia origem aos ritos.

O teísmo vai à contramão, ele re-gride, essa se-“para-ação” positiva na evolução é vista como negativa, a auto-nomia na antropologia Darwinista é vista como pró-gressão, já no teísmo é re-gressão, no evolucionismo o homem é auto-nomo, a regra vem de dentro, no teismo o homem é Teo-nomos vem “de fora”, abre mão da lei em si (dentro) para a lei além de si (fora)!

Na auto-nomia evolucionista ao terminar o ciclo da vida, o homem volta ao ventre da mãe natureza, no teísmo o homem cria símbolos, projeta seus anseios sabe que irá para o ventre da mãe, mas crê que voltará para os braços do pai! Religião é símbolo é desejo que palavras não podem expressar!

A filosofia teísta nem sempre concordou com a “queda”, Hegel interpreta a quebra da regra, (lei) como “Queda para cima”, nesse caso, o “fogo” roubado dos deuses trouxe luz aos homens (prometeu), o “abrir os olhos” trouxe o “conhecimento do bem e do mal” (judaísmo-cristão), a criação de regra-símbolo, deu a capacidade do homem transcender (Darwinismo).

A “auto-percepção”, implica conflito entre o “homem x deus (es)” (teísmo) ou a “criança x pai” (psicanálise), homem x natureza (Darwinismo). O Theos [14] adverte o antropos [15] que a quebra da norma marcaria o inicio do conflito, “abrir os olhos” enfrentar a “de-grada-ação” (Teísmo) ou a “e-voluir-ação” (Darwinismo).

No teísmo houve pré-juizo, trocar o não saber pelo saber, no primeiro há ausência de conflitos, mas haveria crescimento sem esses? No segundo (Darwinismo) a vontade de potência (Nietsche) nem sempre teria potência para executar sua vontade, o movimento do corpo na expansão iria encontrar na regra (lei) o seu reverso a contração!

A finitude e o desejo de pró-“longar” a vida, nisso concordam as duas antropologias, mas a evolucionista aceita a bio-lógica, na lógica da bio. O homem vai passar como passou os que passaram antes dele, contudo ninguém nega a necessidade da religião que nos símbolos empresta sentido à existência, ao menos faz o homem crer que é especial, afinal ele é diferente, ou pelo menos é o único que crê assim acerca de si mesmo.
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NOTAS
[1] Série de transformações por que passa o indivíduo, desde a fecundação do ovo até o ser perfeito; ontogenia.
[2] É a doutrina de que o Homem foi criado à Imagem Divina. É a resposta bíblica a como surgiu o Homem, Criatura singular entre as existentes.
[3] s.f.1. Qualidade do que é transcendente; excelência; superioridade. 2. Sublimidade. 3. Grande importância.
[4] (locução latina sine qua non, sem o qual não)adj. 2 gén. 2 núm. Indispensável essencial (ex.: condição sine qua non).
[5] adj. 2 gén.1. Que não desaparece ou não se vai. 2. Permanente. 3. Inseparável do sujeito.
[6] Bio: pref.1. Exprime a noção de vida (ex.: biografia). 2. Exprime a noção de biologia ou biológico (ex.: biodiversidade). Psicológico adj.1. Pertencente ou relativo à psicologia.
[7] (antropo- + -logia)s. f.1. Estudo do homem considerado na série animal. 2. História natural do homem. teísta adj. 2 gén. s. 2 gén. Que ou pessoa que crê na existência de Deus.
[8] Antropologia idem 7, mas estuda o homem a partir da crença de o homem foi criado a imagem e semelhança do seu criador.
[9] O teísmo (grego theós, - oú, deus + - ismo) s.m. Crença na existência de Deus.
[10] LARAIA, Barros roque de. Cultura. Um conceito antropológico. 24ª edição. Editora Zahar. Rio de Janeiro – RJ. 2009.
[11] Id: conjunto de energias psíquicas que determina os desejos do sujeito
[12] Ego: estrutura onde está todo conhecimento que o indivíduo possui de si e sobre o meio
[13] Superego: estrutura que se desenvolve a partir do conhecimento mora e valores do indivíduo. Representa a mora dentro do indivíduo.
[14] Theos: Palavra grega para designar: “Deus”.
[15] Antropos: Palavra grega para designar “Homem”.
Fonte de consulta: http://www.priberam.pt/

Esse artigo foi postado originalmente no blog: CPFG (Confraria dos pensadores fora da gaiola)

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