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domingo, 27 de dezembro de 2009

Freud: No divã do Evangelho! Parte II


A repressão do instinto na teologia Cristã é a forma do homem voltar em parte, ao estado original da criação, e isso só poderá ocorrer se não deixar-se dominar pelo principio do prazer, e encontrar mais prazer no principio de dominar-se, ajustando ao principio da realidade.

Qual a cura para a neurose? Essa pergunta só pode ter uma resposta parcial e a psicanálise apresenta a sua teoria: “o reconhecimento de que é inevitável reprimir os instintos, eliminando os excessos impostos pelo superego, o caminho não é aliviar o superego em favor do principio do prazer, mas para o bem da civilização”.

E aqui precisamos corrigir uma injustiça de alguns segmentos da teologia Cristã a Freud, que embora fosse contra a religião, certamente pelo contexto em que viveu, era mais anti-religioso na “fala das teorias” do que no sentido “pratico”, para ele os instintos deveriam ser reprimidos, não com excessiva rigidez, mas o suficiente para preservar a civilização.

A fase religiosa como o penúltimo estágio antes do cientifico, onde o homem atingirá a maturidade, trará a vitória de conquistar domínio sobre o principio do prazer, a realidade o levará para o mundo exterior na busca dos seus objetos de desejos. Esse é o desejo de libertação do homem, que dessa forma teria uma espécie de “retorno ao Jardim do Éden”.

A partir da conclusão da evolução da humanidade podemos inferir que o elemento da esperança futura é a “fé”, e por mais “consciente” da sua razão, a psicanálise “inconsciente” admite que assim como a teologia, ela também “crê no absurdo”, que um dia na “maturidade” o homem eliminará o conflito, entre o prazer & realidade.

A teologia também crê, mas não a “conciliação entre os dois”, e sim a restauração da ordem de todas as coisas, como foi um dia no principio da criação [1]. A cerca da do absurdo da fé religiosa, comenta Rubem Alves:

“A esperança religiosa de um novo céu se resolveria com o advento de uma nova terra. Não há nenhuma heresia nisto. Até mesmo a Bíblia concorda. No Paraíso e na Nova Jerusalém não há templos. Marx percebeu este fato claramente ao afirmar que a religião desapareceria com o advento de uma sociedade justa. Ele não poderia esconder o inconsciente hebraico-cristão que o formou. Entretanto, o que separa os dois, a Bíblia de Marx, é que a Bíblia não vê, dentro dos limites da história, nenhuma possibilidade de um evento pelo qual o homem se redimiria a si mesmo. È isto que a igreja cristã, talvez de forma inconsciente, preservou através do símbolo do pecado original. Marx não pode resistir ao fascínio de uma visão utópica (no sentido preciso que o marxismo dá a palavra), enquanto para a Bíblia a esperança da Nova Jerusalém permanece como um horizonte. Do seu principio até o seu fim a história é uma sucessão de sintomas de uma enfermidade incurável”. [2]

Que proposta tem a teologia Cristã para o ateísmo professo de Marx, que tinha uma fé inconsciente, na utopia, de um fim de conflito entre o homem e a injustiça social? A teologia Cristã crê que o homem que adota o modelo de Cristo através do evangelho, já nesse sistema, apresenta os princípios para a realização dessa utopia: “uma sociedade justa”.

Jesus estabeleceu a base paradigmática do conceito de liderança para a sociedade que pretende ser justa: “Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem autoridade sobre elas são chamados. Mas vocês não serão assim. Ao contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve”. [3]

A psicanálise também espera uma “utopia”, num determinado tempo o homem vencerá o conflito que gera a neurose, isso ocorrerá quando o principio da realidade subjugar o principio do prazer!

A solução para os conflitos na teoria da psicanálise, é também um tempo futuro, uma “Fé” inconsciente. Essa fé para o Cristão é mais “explicita”, pois o alvo do cristão também é “alcançar a unidade da fé e do conhecimento do filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo” [4]

Para o cristianismo Jesus é aquele que conseguiu dominar o principio do prazer, através do maior senso de realidade já experimentado por um homem, somente a divindade encarnada poderia dominar tão grande conflito.

“Aquele que é a palavra que se fez carne e habitou entre nós. (...) Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu, e uma vez aperfeiçoado, tornou-se a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”. [5]

Se em última análise todos crêem em utopia, até o criador da teoria do “inconsciente”, inconscientemente cria, viva a “utopia”.



___________________________
Notas
[1] Alves Rubem. O suspiro dos oprimidos. São Paulo. Ed. Paulus 1999. p. 78
[2] Gênesis 3:10. Ao ser procurado por Deus o homem pela primeira vez “se esconde”, e confessar ter sentido medo.
[3] W.W. Norton & Co. Nova York 1962. Op. Cit. Rubem. Alves O suspiro dos oprimidos. 1993. Ed. Paulus. p.78
[4] Romanos 7: 14 - 18
[5] Gálatas 5: 19-21
[6] Romanos 7: 14 - 18
[7] Apocalipse 21:1-4. Narra à restauração do caos em que se encontra o sistema, um novo céu e nova terra, onde a dor será extinta e a morte será eliminada.
[8] Alves Rubem. O suspiro dos oprimidos. São Paulo. Ed. Paulus 1993. p. 100
[9] Lucas 22: 25-26, A tradução Almeida revista e atualizada traduziu “jovem”, por “menor”, contrastando com “maior”, sobre o conceito de governar.
[10] Efésios 4:13
[11] Hebreus 5:8-9 (Nova versão internacional)

2 comentários:

  1. Prezado J. Lima

    Acho muito interesante o estudo do inconsciente por Freud, entretanto sinto dificuldade em ligar o Cristo histórico àquelas fases do desenvolvimento psíquico, que segundo o pai da psicanálise, estaria atrelado a esfera sexual. Quer dizer, Cristo teria passado por aquelas fases:

    1. Fase oral com suas primeiras frustações.

    2. Fase anal que conduz a fantasias e
    comportamentos sádico-masoquistas.

    3. Fase fálica - das descobertas das zonas erógenas

    4. Fase genital, em que se desenvolve o Complexo de Édipo.

    Não sei, mas, me sinto mais a vontade com o diálogo entre a religião e a psicanálise desenvolvido por Jung.
    A teoria de Jung não faz do Complexo de Édipo um modelo de explicação universal com poder de decifrar tudo que acontece ao homem religioso.

    Jung, embora fosse um homem religioso, como pesquisador adotava uma postura mais científica, adotando, por exemplo, os "arquétipos" como estruturas psíquicas atemporais e universais
    Suas afirmações e teorias apontam para a exstência de uma imagem arquetípica de Deus, e não a existência de Deus como uma entidade em si mesma separada do homem.

    Para Jung, essas imagens de Deus antropomorficamente expressadas, apresentam uma antinomia em que o bem e o mal, as trevas e a luz estão em um dinamismo intrínseco.

    Para mim, a teoria de Lacan na releitura de Freud, apesar de ser muito complexa, de certa forma aproximou um pouco as ideias de Freud aos conceitos junguianos. Foi Lacan que, a partir de Freud, expôs através de um longo e cansativo tratado, as instâncias psíquicas denominadas:

    O Real, o Simbólico e o Imaginário.

    Talvez,isso tenha sido resultado de um clarão que lá do inconsciente de Lacan, saiu para fazer as pazes entre os dois maiores monstros e estudiosos da psique humana(Freud e Jung).

    Gostaria de ouvir a sua opinião sobre as minhas racionalizações aqui expostas.

    Cordialmente,

    Levi B.Santos (http:www.levibronze.blogspot.com)

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  2. Bom, como o seu comentário foi bastante rico em conhecimento, farei os comentários acompanhado a sequencia do seu escrito embora não irei colocá-los no texto ok?

    A priori não era a minha intenção fazer uma análise da psicanálise nos processos da formação desde as fazes progressivas na formação do desenvolvimento humano.

    Embora creia que não há nenhum problema que cristo tenha passado todas essas fases, pelo contrário se a confissão de fé cristã, tem como premissa que ele foi o “Deus que se tornou carne”, pode ser questionado a elaboração freudiana sobre o desenvolvimento humano, mas comprovado a realidade da teoria não vejo dificuldade em aceitar que cristo passou por todas elas.

    Mesmo porque o artigo teve mais a finalidade de mostrar que a critica freudiana do complexo de Édipo, com a narrativa do Genesis sobre a queda, tem justamente o oposto, da critica de Freud sobre a religião cristã em “totem e tabu”, mas tem em comum a ”culpa”, como ontologia da teoria psicanalítica e da teologia.

    Quanto a Jung, concordo plenamente com você principalmente sobre o “inconsciente coletivo”, acho fantástico a profundidade de Jung nessa teoria, que certamente tem muito a ver com “doutrinas” elaboradas através da história do cristianismo! Mas sinceramente acho muito metafísica a abordagem Junguiana, e de difícil assimilação.

    Quanto ao complexo de Édipo como sendo um arquétipo universal, realmente foi importante para o seu tempo, Lacan contextualizou a psicanálise justamente mexendo no seu pilar ao substituir o complexo de Édipo, por uma clinica “pós-edipica”, visto que a sociedade freudiana estava firmada num sistema vertical de valores, tendo o modelo patriarcal de herança judaico-critã como base na constituição da família.

    Concordo com você sobre o Lacan e acrescento um pouco mais: “ele a semelhança do Nietsche foi uma espécie de “profeta”, (permita usar um termo judaico cristão para dois personagens tidos como ateus rsssss)”.

    Antes do Lacan era uma clinica edípica (Freud) ele avança para uma pós-edípica, sinto que ele se antecipa no tempo, e vê já nos seus dias que uma sociedade que tinha os seus valores absolutos na vertical, se buscava “a verdade” a modernidade substitui para “uma certeza”.

    No contexto de Lacan tivemos o mundo da “verdade”, quer dizer por ter um padrão achava que tinha uma verdade privilegiada sobre as outras, no mundo de hoje verdade são só construtos lógicos ou seja, certeza, quando o movimento da vida mostrar o contrário ou fatos comprovem que essa “certeza”, já não tem mais significado. Por isso vejo que ele se antecipou ou pré-viu!

    As suas colocações sobre Jung mostra que você deve ter estudado um pouco mais do que eu.....rsssss

    Quanto a esse comentário: “Talvez, isso tenha sido resultado de um clarão que lá do inconsciente de Lacan, saiu para fazer as pazes entre os dois maiores monstros e estudiosos da psique humana(Freud e Jung).”

    Creio que o Lacan era menos radical, do que o seu mestre, não sei se Freud tinha consciência ou era “inconsciente” da sua intolerância com quem tinha idéias diferentes das dele, daí a sua irritação com os seus alunos (rsss)!

    Já o Lacan por saber que daria continuidade ao pensamento do seu mestre, não teve “orgulho” mesmo porque na psicanálise Freud é considerado o pai, concordando ou discordando dele, ninguém cria mais uma tese sobre a psique, quem quiser tem que construir a partir dele, acho ele, juntamente com o Nietsche, parte de um grupo seleto de pensadores que já pisou essa terra! (em minha opinião é claro. rsss).

    Levi tenho mais artigos sobre psicanálise e vou postar ok? Será um prazer compartilhar com você algumas idéias dessa área.
    Abraço.

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